Vamos falar um pouco sobre a importância da Educação Financeira e da criação de um Planejamento Financeiro Efetivo

Aprendemos português, matemática, ciências na escola, mas não nos ensinam a se relacionar com o dinheiro, qual sua opinião sobre isso?

Realmente não existe essa preocupação na escola normal, fundamental e médio, e também no ensino superior. Em ensinar o brasileiro a lidar com o seu dinheiro, e essa ausência creio ser responsável pelas mazelas que assolam grande parte da nossa população. Hoje temos pelo menos 65% de brasileiros com dívidas e 25% em inadimplência, que são aqueles que não conseguem pagar as suas dívidas. O Brasil ocupa a 74ª posição em Educação Financeira, num ranking de 144 países, atrás de alguns dos países mais pobres do mundo como Madagascar, Togo e Zimbábue.

Observarmos os países que ocupam os primeiros lugares em Educação Financeira, verificamos que existe uma relação entre a competência desenvolvida para a Educação Financeira da população e o IDH medido no país. O IDH é um índice internacional que mede o nível de desenvolvimento de uma sociedade em relação a educação, saúde e renda. No 1º lugar em Educação Financeira, a Noruega, ocupa o 1º lugar também no ranking do IDH mundial. No 2º lugar, a Dinamarca, que ocupa o 4º lugar em IDH. Já o Brasil, 74º lugar, ocupa 75º em IDH, não sou um especialista em economia, mas acredito que existe alguma relação que aproxima cada um dele dos lugares ocupados.

No Brasil, temos algumas iniciativas que considero tímidas em relação a promoção da Educação Financeira, mas que entendo ser necessário evidenciar.

A Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), é uma delas, a ENEF é uma mobilização em torno da promoção de ações de Educação Financeira, seguros, previdência e tributos. O objetivo da ENEF, é contribuir para o fortalecimento da cidadania ao fornecer e apoiar ações que ajudem a população a tomar decisões financeiras mais autônomas e conscientes. Ela foi criada em 2010 através de decreto e teve um novo decreto editado em 2020, com a criação da nova ENEF, que basicamente guarda os mesmos objetivos dispostos no decreto de 2010, apenas criando um comitê composto por 8 órgãos do governo, tudo no intuito de fortalecer as ações da Estratégia.

Falando de iniciativas importantes da ENEF, temos a promoção de um evento chamado Semana ENEF, que acontece uma vez por ano, desde o ano de 2014, com o objetivo de promover a Educação Financeira e colocar em evidência movimentos que vem ocorrendo em todo país, através de instituições e pessoas físicas, que fazem a Educação Financeira acontecer através de cursos e palestras no Brasil.

Uma outra coisa que podemos encontrar no site da ENEF, que é o <vidaedinheiro.gov.br>, é um curso EAD para quem quer aprender sobre Educação Financeira. Curso que já fiz, para conhecer a didática e conteúdo, e que recomendo, ele tem material básico suficiente para aqueles que querem iniciar na Educação Financeira.

Além do ENEF, temos também o MEC, pensando na Educação Financeira, através da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Básico, que teve o seu texto alterado em dezembro de 2018. No novo texto a Educação Financeira aparece como algo que deve ser ensinado de maneira transversal nas escolas do 1º ao 9º ano, ou seja, através das matérias convencionais do Ensino Básico. A incorporação desse ensino deveria ter sido iniciada no ano de 2020. A Educação Financeira deve então ser introduzida junto com os conteúdos afins de cada uma das matérias lecionadas aos estudantes. Conheço o texto da BNCC e ainda considero muito incipiente o conteúdo proposto, mas novamente já é um início.

O material didático de livros no ensino básico produzido por editoras para atender Ensino Básico, desde 2019 já tem introduzido assuntos relacionados com a gestão financeira.

Nas escolas públicas não temos como avaliar se já existe alguma coisa acontecendo por ocasião da pandemia do Coronavírus, que teve início justamente no ano de implantação de tal educação nas escolas. Vamos aguardar e ver como será nos próximos anos.

Importante acrescentar que no site da ENEF está disponibilizado uma coleção de livros didáticos que trazem, ano a ano, livro do aluno e do professor, com orientação de atividades para guiar os professores com os conteúdos relacionados com a Educação Financeira. Existem livros para todos os anos, do 1º ao 9º, e ainda para o ensino médio, do 1º ao 3º ano. Não é o conteúdo mais completo na minha visão, mas serve bem para orientar os professores, que podem adequar, dentro da sala de aula, os livros as suas realidades de matérias lecionadas. Digo para os professores que vale a pena conferir no site <vidaedinheiro.gov.br> e aproveitar o material disponibilizado.

Por quais motivos devo fazer um planejamento financeiro?

Existem 05 motivos principais:

  1. Controle sobre receitas e despesas
  2. Evitar a ocorrência de dívidas
  3. Conseguir entender qual o seu padrão de vida possível
  4. Poder transformar sonhos em realidade de forma planejada
  5. Conseguir se organizar para a sua Independência Financeira

A maioria dos servidores públicos estão bem endividados, como fazer para se livrar das dívidas?

Dívidas melhor não as ter, mas é perfeitamente possível se livrar delas.

Como já mencionei anteriormente, as dívidas são uma grande chaga na nossa sociedade. As pessoas antes de ganhar ou ter os recursos resolvem utilizar o crédito disponibilizado de forma irresponsável e terminam por se endividar. Em casos mais extremos, tornam-se inadimplentes, entrando para a lista de maus pagadores.

Independentemente de qualquer coisa, não posso dizer que ninguém está livre de contrair dívidas, sendo importante que se saiba lidar com essas situações da forma mais acertada.

Existem duas fases do endividamento, o endividamento em si, que é quando temos dívidas e pagamos todas as suas parcelas em dia, sem atrasos, e a inadimplência, que é a ausência desses pagamentos.

Se você está somente endividado, ou seja, tem parcelas para pagar e consegue quitá-las nos seus vencimentos, e não só uma, mas várias dívidas, a sugestão é preencher uma planilha em Excel, que tenho disponibilizada no link da bio do perfil no Instagram (@vidaefinacas), para poder avaliar todo o endividamento e fazer o que chamo de concentração das dívidas em um só lugar, procedendo com o que chamamos no mercado financeiro brasileiro de Portabilidade, que é quando você migra a(s) sua(s) dívida(s) de uma instituição financeira para outra, obtendo redução de taxa de juros.

Contabilizadas, através da planilha, todas as dívidas, é procurar por instituições que possam lhe trazer um Custo Efetivo Total (CET) menor em termos de valor total a ser pago. Quem tiver dúvidas sobre o procedimento de preenchimento da planilha, pode me procurar lá no perfil via Direct que terei o maior prazer em ajudar.

De posse do valor total hoje e de quanto seria pago ao final de todas as parcelas, é hora de sair a procura de instituições que possam comprar essas dívidas e lhe trazer ao final da contratação da Portabilidade um valor total que seja menor do que aquele que você pagaria com as dívidas anteriores. De posse dessas informações você voltará para casa e preencherá os campos faltantes referentes ao que será a nova dívida. Lembrando que quando realizar o preenchimento da nova dívida você terá como fazer a leitura do seu novo CET em termos percentuais, que deverá ser menor do que você pagaria se permanecesse nas dívidas anteriores. Em termos gerais, se a nova dívida tiver um valor total a ser pago que seja menor do que as dívidas existentes, pagando as suas prestações, já está valendo a pena.

Os endividados devem tentar negociar pelo menos três instituições financeiras, procurando pelos produtos com taxa de juros menor, para fazer o comparativo. Quando for fazer a sua negociação para Portabilidade, leve a sua tabela preenchida, para mostrar toda a sua situação, isso ajuda na negociação com a nova instituição, pois o gerente tem todo o interesse de fazer você pagar juros na instituição onde ele trabalha e não onde você paga as suas dívidas hoje.

Importante chamar a atenção de que se a instituição que for procurada para fazer a Portabilidade lhe oferecer outros produtos para que possa contratar o novo empréstimo, a sua argumentação é que você não tem obrigação de adquirir nenhum outro produto, pois, pelo Código de Defesa do Consumidor, isso se caracteriza como Venda Casada, o que é proibido. Se mesmo assim ele insistir, parta para outra instituição.

Não esqueça que a nova parcela deve caber no bolso. Nunca façam Portabilidade para pagar uma prestação que seja maior do que as que pagava anteriormente.

Agora vamos tratar dos endividados que são inadimplentes, que são aqueles que não conseguem mais quitar as suas prestações.

Nesse caso, o melhor é procurar a instituição financeira e negociar uma redução drástica dos valores devidos. Acessando o site do Serasa Consumidor e consultando o seu CPF, é bem possível que você encontre propostas para as quitações dessas dívidas, já com valores bem menores que os calculados inicialmente pelos agentes financeiros. Se ainda assim os valores não forem suficientes para que você consiga honrar os pagamentos, a recomendação é que ligue para as empresas, que normalmente já não são mais os seus credores iniciais, e negocie, sempre há a possibilidade de parcelamento e encaixe das parcelas em valores que você possa pagar. As taxas e os valores, muitas vezes valem bem a pena. Quitada a dívida a empresa é obrigada a tirar o seu nome do Cadastro de Inadimplentes e a instituição credora tem cinco dias para fazer isso sob pena do indivíduo mover um processo contra ela. Mantenha os seus comprovantes de pagamento e anote muito bem todos os protocolos de atendimento feito.

Ao contrário do que muitos pensam, apesar de depois de cinco anos com seu nome no cadastro, ele terminar por sumir por força de lei, as suas restrições irão continuar, pois as instituições trocam essas listas de inadimplentes entre si. O uso do crédito é algo a ser evitado, mas existem momentos em que o indivíduo precisará dele e com condições que podem ser vantajosas, mas isso é conversa para um outro bate-papo nosso. Então é procurar manter o crédito disponível quitando as suas dívidas ou simplesmente não fazendo ela.

Com grandes perdas referentes a defasagem salarial em todo país devido a inflação que assola as famílias e que não é a medida oficialmente e com salários que mal dão para uma sobrevivência digna, é possível fazer um planejamento financeiro de longo prazo? Quanto seria o aporte mensal? O que devo levar em conta?

Essas são três perguntas bem difíceis de responder, pois elas não têm respostas únicas.

Deixe-me tentar explicar. O ideal, diante dessa situação seria que cada um dos brasileiros fosse reduzindo o seu padrão de vida, gastando o mesmo que gastava com certas despesas e consumindo por consequência menos, já que as coisas não pararam e não param de subir, em função da inflação que age sobre os seus preços. Essa adaptação das despesas à realidade das receitas, que não teve muitas vezes nem o incremento da Inflação Oficial, é algo inevitável, pois a primeira grande lição é não gastar mais do que ganha, mas como fazer isso? Sem o entendimento que esse planejamento financeiro é necessário para a garantia de dignidade no momento da velhice é muito difícil. Na verdade, Educação Financeira é mais sobre mudança de mentalidade e muito menos sobre o dinheiro em si.

Continuando, vou explicar como funciona a elaboração de um orçamento. Num orçamento financeiro, de um lado temos as receitas e do outro lado temos as despesas essenciais, aquelas que são dia a dia e que não podem ser evitadas, alimentação, habitação, transporte, contas de consumo, entre outros, depois temos os desejos, tudo que podemos considerar como “supérfluo” em nossa vida, mas que eu chamo daquelas coisas que nos traz a qualidade de vida que nos faz realmente felizes, viagens, restaurantes, entretenimento em geral, presentes, e por último, a última e mais importante parcela desse orçamento os investimentos, que são aqueles que irão garantir, se bem planejados, o que chamamos na Educação Financeira de Independência Financeira, que é o momento onde o patrimônio acumulado, com os aportes constantes e a mágica dos juros compostos agindo sobre eles, irão garantir rentabilidades mensais que cobrem todas as suas despesas. Digo que é o momento quando acordamos pela manhã e decidimos se vamos ficar de folga ou sair para trabalhar, e por isso o termo Independência Financeira, eu não preciso mais me preocupar com dinheiro, então tenho independência para fazer escolhas em minha vida.

Querendo o indivíduo começar a construir a sua Independência Financeira, o ideal é que os gastos essenciais não ultrapassem os 50% das suas receitas e a maioria das pessoas não conseguem viver gastando apenas esse percentual em suas despesas essenciais. Esse percentual de 50% para as despesas essenciais é algo muito polêmico em minhas conversas com os meus aconselhados, que é como chamo as pessoas que ajudo nesse planejamento financeiro, mas é o percentual que garante as possibilidades para os planos de investimentos de futuro efetivo. Para os outros 50% que são os percentuais para os desejos e investimentos, não temos valores pré-definidos, eles irão variar com o tempo que o indivíduo tem para acúmulo. Se existe a intenção de seguir para alcançar a Independência Financeira, quanto mais tempo o indivíduo tiver, menor será o percentual das receitas para serem alocadas nos investimentos e, por consequência, um percentual maior sobrará para a realização dos desejos. Em outras palavras, não existe um valor específico para ser aportado, tudo irá depender de como está planejado o orçamento do indivíduo, o tempo que ele tem para aportar, a rentabilidade disponível no momento de cada aporte e a inflação projetada naquele momento. Reforçando, quanto mais tempo para aportes, menor será a necessidade de comprometimento da sua receita. No final, tempo sempre será o nosso ativo mais valioso, quanto mais cedo começarmos, maiores serão as possibilidades de um plano vencedor.

Quais os benefícios que a prática da Educação Financeira pode trazer para a aposentadoria?

Como eu já disse anteriormente, o grande legado que a Educação Financeira pode deixar para aquele indivíduo que resolve seguir nesse planejamento financeiro de futuro, ou como costumamos chamar nesse plano de longo prazo, é a Independência Financeira. A aposentadoria em nosso país é algo cada vez mais distante e difícil de se alcançar, tanto no Regime Geral, quanto para os Regimes existentes para os funcionários públicos nos estados. As alterações, ao longo do tempo, só vêm reduzindo os valores a serem recebidos. Estudos feitos no Regime Geral mostram que o trabalhador perde em média, quando se aposenta, cerca de 40% de suas receitas. E nos Estados é sabido que existem problemas com os Fundo de Previdência, os concursos públicos não existem mais, os estatutários estão envelhecendo e se aposentando. Os quadros do Estado estão repletos de terceirizados e Cargos em Comissão, com indivíduos que não são do quadro próprio, e isso só piora a situação das previdências estaduais, pois estão recolhendo muito dinheiro ao INSS e perdendo receitas que poderiam garantir ou pelo menos melhorar a situação para aposentadoria dos estatutários ao longo do tempo. Baseado em todos esses dados, recomendo a todos que procurem se organizar, se livrar das dívidas e se planejar para um futuro com uma proteção efetiva, que só é possível através de um planejamento financeiro que tenha um plano de investimentos consistente. Não é uma coisa fácil de ser implementada, eu não posso ser leviano e afirmar o contrário, mas com um pouco de “jogo de cintura” e, como disse anteriormente, uma mudança de mentalidade, é perfeitamente possível montar um plano possível.

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